domingo, 7 de fevereiro de 2010

Código Florestal e desinformação

Por Efraim Rodrigues

É próprio do jogo democrático que cada um defenda seus interesses, mas desinformação é golpe baixo, mesmo se tratando de um código.

O Ministro diz genericamente que o Código Florestal inviabilizaria a agricultura. Ruralistas usam esta ameaça desde a abolição da escravatura (Sem escravos o Brasil vai quebrar!). A verdade é que os carros de luxo esgotam-se no interior do país quando a soja sobe de preço.

Vicente Falcão afirmou no Jornal O Estado de São Paulo de 4/10/2009 que restaurações nas quais é necessário plantar árvores nativas podem custar até R$ 22.000,00/ha. É mentira. E provo, me oferecendo para trabalhar de peão para o Sr Vicente. Em um mês de trabalho planto e cuido de uns dois ha (sem me estressar) e ganho 44.000 reais. O único problema seria evitar o olho gordo dos Desembargadores. Repito, este valor é men-ti-ro-so. Para arrematar, Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura, multiplicou este valor por uma área agricultada igualmente irreal, para chegar ao valor de 425 bilhões de reais para restaurar todas reservas legais do país.

Este número não está nem mesmo errado ! Custaria 29 bilhões para refazer 30% da área agricultável brasileira, mas não é assim que produtores rurais restauram florestas – e muitos o fazem. Ninguém gasta dinheiro com o que a natureza faz de graça. Uma área que foi cultivada transforma-se em floresta por si própria em poucos anos. Uma ou outra área mais difícil pode até receber umas mudas, mas isso vai ser feito com as sobras de mão de obra e recursos da fazenda.

Não deve ser por ignorância que os ruralistas não falam em manejo florestal sustentável em reservas legais, já que esta gente de Brasília lida melhor com a fibra vegetal morta que com a viva. Reservas legais podem ter café sombreado com floresta, produção sustentável de madeira ou qualquer tipo de exploração que não suprima a vegetação. Está no parágrafo 2 do artigo 16 do Código Florestal desde 2001. Trabalhando, a reserva legal rende ao invés de custar.

Enquanto os bisnetos dos produtores escravagistas estão preocupados com a perda de área, alguns fazendeiros vendem a preço de ouro em São Paulo e Nova York os frutos de suas reservas legais pois produzem com menor impacto. Em breve este luxo das grandes cidades passará a ser exigência corrente e os exportadores de grãos com baixíssimo valor agregado, verdadeiros mineradores agrícolas, irão reclamar novos empréstimos e proteções porque “A agricultura brasileira vai quebrar !”

Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Nos fins de semana ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico e a coletar água da chuva.

Veja no LONDRIX - O Portal da Cidade de Londrina

Nenhum comentário: